sábado, novembro 15, 2008

"Mais depressa, Joaquim. Mais depressa!"

Quando o Buick Roadmaster se despistou na Nacional 4, a 15 de Novembro de 1943, Portugal mudou.
Morria o Eng. Duarte Pacheco.

É complicado tentar descreve-lo usando frases que não terminem em pensamentos de como seria Portugal, hoje, se tal não tivesse acontecido.

Duarte Pacheco era progresso, era vontade de fazer e de melhorar e foi vitima da sua força e paixão de viver a vida.


O acidente vitimou também o Engenheiro Silvicultor Jorge Gomes de Amorim e feriu gravemente os Eng. João Alberto Barbosa Carmona e Raúl de Mesquita Lima (engenheiros de pontes e estradas, respectivamente).
Não encontrei nada acerca de Joaquim Mangas (motorista) e Venâncio Marques (correio), mas suspeito que também tenham falecido.

A viagem de regresso de Vila Viçosa nunca foi concluída.
Duarte Pacheco, que "voava" para estar presente no Conselho de Ministros no Terreiro do Paço, nunca o conseguiu fazer.
Faltou o controlo a Joaquim Mangas. E o resto faltou a Portugal.

Excerto do discurso de Salazar em memória de Duarte Pacheco, a 15 de Novembro de 1953:

"Quando se tem vivido uma vida já longa, e, sobre longa, intensa, de trabalhos, de fadigas, de inquietações, até de sonhos, o caminho que percorremos fica ladeado de numerosas cruzes - as cruzes dos nossos mortos. E se essa vida foi sobretudo colaboração íntima, soma de esforços comuns, inteiro dom das qualidades nobres da alma, eles não ficam para trás: continuam caminhando a nosso lado, graves e doces como entes tutelares, purificados pelo sacrifício da vida, despidos da jaça da terra, sublimados na serenidade augusta da morte. Na verdade, há mortos que não morrem: desaparecem no seu invólucro terreno, na sua figuração humana, na fragilidade e nos defeitos e nas limitações da carne; mas o espírito continua a brilhar como as estrelas que se apagaram no céu há cem mil anos, vincam-se mais na terra os sulcos que o seu exemplo abriu e parece até que os seus afectos não deixam de aquecer-nos o coração. Nem de outra forma se compreenderia que a Providência suscitasse tantas vezes almas extraordinárias, cumes de beleza espiritual, e lhes não conceda mais que uma breve aparição, como voo de asa que corta o céu, botão que murcha sem revelar ao sol da manhã a graça do perfume da rosa. Há mortos que não morrem, e nós todos que viemos de longe ou de perto, em saudosa peregrinação, somos os que testemunhamos que este não morreu."


Local do acidente, 15 de Novembro de 2008 (fotografia de Miguel Brito)

Faz hoje 65 anos.
Fica o registo.