A Vespa
Haviam por lá muitas Vespas. Sabes como é, país quente, sol... também chuvia é certo, chegava a chover muito e muitas vezes era com cada carga de água que criava autenticos rios! Mas até a chuva era quente. Aquilo era calor que nunca mais acabava. E então os jovens usavam muito as Vespas e os Mini Moke para se deslocarem e aquilo era giro, haviam muitas e eram de muitas cores diferentes, se estivessemos por exemplo num dos cruzamentos da Avenida dos Combatentes aquilo eram um frenesim de cores que fazia lembrar um arco iris! E eu e o Chico, que vivia com o pai nos Restauradores, em 1967 comprámos uma verde, uma 50S, para andarmos por lá. Era verde mas 1 ou 2 anos depois o Chico quis pintá-la de azul porque ao pai dele - o Sr. Neves - tinham sobrado uns litros de tinta da pintura do 1275GT e o verde da Vespa já estava muito estragado, pelo que em 2 dias pintámos aquilo.
Uma vez à saída do restaurante São Jorge - já vinhamos um bocado tortos - já não nos lembravamos de que cor era a nossa Vespa, então andavamos à procura de uma verde e quando finalmente encontrámos uma subimos lá para cima e tentámos ligar o motor, mas o Chico dizia que a chave não entrava. Era um gajo castiço, mas quando bebia não conseguia fazer nada de jeito... era bom moço, acabou por ficar por lá e da ultima vez que soube dele tinha 3 filhos, mas já foi à muito tempo... uns 20 anos talvez. E então tirei-lhe a chave da mão e fui eu tentar ligar aquilo mas levei um murro em cheio no olho direito! Caímos os dois ao chão! Bom, o Chico se calhar já tinha caído antes, era com cada uma... ele bebia muito... De maneira que caímos os dois no chão... vou a olhar, era o Abranches! A mota era dele! Esse Abranches era mauzinho, andava sempre à zaragata. O pai dele era de Vila Real e tinha um comercio ao pé do Liceu Salvador Correia, também não era muito boa pessoa, por vezes até nos clientes batia... por isso mal vimos o Abranches soubemos logo que iamos levar um arraial de pancada. Quando ele se virou para o Chico já ia a fechar o punho e eu vi logo no que é que aquilo ia dar. Nunca tive medo de andar à pancada e sempre bati mais do que levei [ri-se] e mandei-lhe logo um berro "bates nele desfaço-te já aqui!" para ver se ele era capaz... e foi, nesse dia fomos os dois a pé para casa. Depois é que soube que o Abranches era um bocado surdo."
José Augusto Moreira, 71 anos
Reformado
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