Nova Lisboa
Quando voltarmos, voltamos todos!
Eu era o chefe. Não era, mas era o que falava mais alto, e disse-lhes "rapazes: se é para voltar, voltamos e voltamos todos!". Nunca mais parámos. Mato serrado, rios sem travessias... foi de tudo!
Eu era o chefe. Em boa verdade não era, mas quem visse dizia que sim. Mas ninguém nos viu, não!, e a dada altura, era de noite, lembro-me como se fosse hoje, parámos. Era uma estrada, passavam carros e tivemos de esperar que passassem para não nos verem. E depois seguimos, olha, zás! Que nem lebres!
Eu era o chefe. Ia na frente, a abrir caminho. O Zé vinha atrás e o Semedo logo a seguir. Isto a caminho de Nova Lisboa, onde a coisa ainda não estava muito má. Daí seguíamos de avioneta com o Rodrigo, do Lobito, e estávamos safos! Foi pena o Semedo ter vendido o Toyota, mas a pé a coisa também se fez. Teve de ser. Acho que nunca tinha corrido tanto na vida...
A dada altura atravessámos um rio, fundo... aquilo era água que nunca mais acabava. Mas sabíamos nadar. Eu nadava melhor. Parecia o chefe do grupo, era o que nadava melhor. O Zé nadava mal. Apanhámos o comboio em Silva Porto, o resto foi um tiro. De manhã estávamos lá e fomos ter com o Rodrigo ao aeródromo.
Ele já estava lá desde o dia anterior, quando o encontrámos estava bêbado que nem um cacho! O Semedo é que teve de trazer a avioneta! Eu pilotava melhor que o Semedo, mas foi ele que a trouxe.
Esse Rodrigo... o pai dele era piloto da TAP, teve sempre um bocado a mania. Menino rico, já se sabe. Pensava que era o chefe ou sei-lá-o-quê, mas não era! O chefe era eu.
Quer dizer, na verdade não era, mas era mais que o Rodrigo.
José Augusto Moreira, 71 anos
Reformado
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