O Engenheiro
Luanda era uma cidade fantástica! As pessoas conviviam muito, era espectacular, ir ao Restauração, que era o cine-teatro, e ao Barracuda - ou o Restinga! - comer marisco, bem! Nunca fui lá, mas diziam que era bonito.
Eu andava muito era por Nova Lisboa, porque a fazenda era logo ali ao lado [aponta para a direita] e era só quando o meu pai não precisava de mim, para enviar algum recado ou aviar alguma coisa para as colheitas. Era costume levar o Toyota e olha rapaz que aquilo andava bem! Uma vez, numa curva, surgiu o Engenheiro e ia-o matando! Era vizinho de meu pai, senhor já de idade... tinha ido de Lisboa em 38 ou 39 e dizia que nunca mais havia de voltar, que isto aqui era só gente parva! Vivia bem o Engenheiro, já se sabe... e então andava sempre de cá para lá, com o Toyota, e quando podia ia à caça. Um dos empregados lá de casa, o Mindo, sabia bem caçar e ao Sábado era costume irmos aos leões, logo ali ao lado [aponta para um pão de leite]. Os meus irmãos também vinham, mas não caçavam. Foi coisa que acabou quando comecei a namorar, em 68, com uma das filhas do Engenheiro. Chamava-se Maria. Um dia - nunca mais me esqueço, era terça - estavamos em casa, mão aqui, mão ali e apareceu o Engenheiro, ficou vermelho!! [gargalhadas] Parecia que ia tendo um ataque! Eheh, coisas da idade já se sabe... mas ele não gostou muito. E quando caçávamos não podiamos fazer barulho porque os animais sentiam e fugiam. O Mindo nunca queria que levasse o Ford Escort porque fazia muito barulho. Também andava bem!
Quando o fui buscar a Nova Lisboa quem me lá levou foi o Engenheiro, que gostava muito de autómoveis. Tinha uns 4 e dizia que nunca eram de mais, incluindo o Mini da Maria. Cooper S! Quando experimentei o Escort mandei uma traseirada que o Engenheiro até foi parar aos bancos de trás! Ele era rabugento, não gostava muito de mim. Quando voltámos ele ainda lá ficou mas acho que depois foi para a África do Sul. Nem nunca mais vi a Maria. Ela também caçava, ensinou-lhe o Mindo. Era um grande caçador. Um dia disse-me para disparar para um leão que estava escondido atrás de um arbusto. Era um arbusto alto, estava como daqui para ali [não aponta para lado nenhum] e eu mandei-lhe dois tiros seguidos. Ouviu-se um berro. Era o Engenheiro."
José Augusto Moreira, 71 anos
Reformado
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