Só cenário
- [...] A acompanhar a situação encontra-se o repórter Júlio Mendes. Boa noite Júlio, como descreverias todo esse cenário?
- Boa noite, o cenário que encontrei... o medo sente-se no ar, as pessoas estão visivelmente preocupadas com os últimos acontecimentos mas, pior, preocupadas com o seu futuro. Muitas perguntam-nos se as podemos ajudar... estão visivelmente abaladas...
- Dirias então que é um cenário aterrador?
- Não, aterrador não diria.
- Terrível?
- Humm... não, terrível também não me parece que seja.
- ... não?
- Não, não.
- ... preocupante, talvez?
- As pessoas estão preocupadas mas "preocupante" não é o adjectivo que utilizaria para descrever o cenário.
- Ai não?
- Não, não. Preocupante não.
- Então? "Negro"?
- Não.
- "Instável?"
- Não.
- "Periclitante"?
- Credo, não! Periclitante?!
- Então está como?
- O quê? O cenário?
- Sim, o cenário! Está como o cenário?
- O cenário... o cenário está tipo strefans.
- Tipo quê?
- Tipo strefans, a roçar quase o strefans spinfans.
- Strefans quê? Júlio, isso não são palavras.
- Não?
- Não não Júlio, isso não existe.
- Mas olha que é assim que está.
- Júlio...
- Eu é que estou aqui, eu é que sei. Está strefans.
- Não insistas Júlio, diz-me só como está o cenário...
- Então está "qualquer coisa".
- Isso não é nada Júlio.
- Não?
- Não, Júlio. Eu gostava de te lembrar que és um jornalista profissional e que está em directo para o Telejornal.
- Então "qualquer coisa" agora não é nada?
- Não é! Qualquer coisa não é nada!
- Ah, espera! É uma dupla negação! Assim está bem, se não é nada só pode ser qualquer coisa portanto.
- Hã?
- É isso é, peço desculpa. Faz sentido. E pronto, passo para ti a emissão.
- Passas a emissão?? Ainda não descreveste o cenário!
- Vou indo e tal.
- Júlio? Júlio!
- Uma boa noite.
- Júlio! Tu não me ignores Júlio!
- ...
- Júlio! Olha que eu sei onde vives Júlio!
- ...
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