segunda-feira, junho 28, 2010

RR



A Rádio Renascença foi provávelmente a primeira rádio que ouvi na vida.
Sobre isso poderia escrever muitas linhas, contar a tortura que era ouvir o "Jogo da Mala" e saber que logo a seguir me vinham arrancar da cama para comer umas papas de bolacha e ir para o infantário ou que a Olga Cardoso era uma voz que afinal também tinha cara - que não era aquela que se esperava, é certo, mas que ainda assim era uma cara - mas vou deixar isso para outra altura e dizer a conclusão a que cheguei recentemente. A Rádio Renascença sofre de um mal: existe.

Eu nunca ouvi muita rádio na minha vida, mas sempre que ouvi esperei sempre ouvir musica. E na Rádio Renascença ela chega-nos com uma carga de sofrimento implicita que - se formos humanos - não nos deixa disfrutar o momento. E porquê? Porque ser musica, na Rádio Renascença, é sinónimo de sofrimento.

Uma musica, no momento em que é lançada para o mercado, sabe desde logo que existem 2 hipoteses:
a) - Nunca passará na Rádio Renascença
b) - Passará na Rádio Renascença...5 ou 6 anos depois de ser lançada no mercado e nunca mais abandonará a lista, chegando mesmo a ser tocada 2 e 3 vezes por dia.

Uma musica demora 5 a 6 anos a passar na Rádio Renascença e toda uma eternidade para deixar de passar.
Ora isto conduz-nos a uma situação insustentável: a lista de musicas da Rádio Renascença tem tantas ruínas
musicais que mais cedo ou mais tarde vai ser necessário uma reabilitação coerciva e - quem sabe - um plano de pormenor.
Há relatos de ouvintes que ligaram os rádios e foram atingidos por escombros e há até quem diga que já viu ratos entre algumas faixas da referida lista.
Está no ponto em que mais vale demolir e fazer de novo do que recuperar.

Escusado será então dizer que a dor presente em cada musica é tal que parece tirarnos anos de vida sempre que as ouvimos.
E vocês perguntam: Ó André, mas se é assim tão má porque ouves tu a Rádio Renascença em vez de outra rádio qualquer?!
E pergunto eu: Mas quem é que vos deu direitos editoriais para me andarem a fazer perguntas que, ainda para mais, terminam com "?!" como que a demonstrar uma certa incompreensão - e até intolerancia - para com o meu post?
Quezilentos... está uma pessoa a contar-vos uma coisa, na boa, e vocês aí matreiros à espera para espetar perguntas destas...
Não vos fica bem, não pensem que fica que não fica.
Faz um certo sentido, mas não fica.

À vossa pergunta só respondo isto: Radar.
E é assim.

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Ps - Só para fazer notar que escrevi Rádio Renascença, por extenso, o maior numero de vezes que pude ao invés da banal sigla "RR" excepto no titulo do post onde até fazia sentido pura e simplesmente porque tinha esse poder, não é nada pessoal...

...Rádio Renascença!
Ah! Era só para mostrar quem manda aqui, podem ir...

quinta-feira, junho 24, 2010

As caçadas

Em Malange vivia-se bem.
Quando fui para lá, em 66, as coisas já andavam longe de andar bem mas ainda se vivia com uma qualidade de vida invejável, principalmente se comparada com a que tenho hoje.
Vivia-se bem, pronto. E aquela terra vermelha acolhia-nos com se sempre tivesse sido nossa.

Caçar lá era uma coisa do outro mundo. Aqui na metropole poucos sonhavam o que se passava por lá - alguns nem nunca tinham visto um animal selvagem sequer!
Um dia fui com o meu tio Rui aos leões. Ele adorava caçar leões... pelo menos dizia que sim, porque nunca o vi caçar nenhum. Mas iamos caça-los muitas vezes.
O meu tio Rui era castiço. Certo dia iamos no Land Rover - que era o jipe do meu tio António - e uma leoa saltou lá para dentro. O meu tio Rui puxou-me e saltámos logo, foi uma cena dos diabos! Eu já nem me lembro do que senti, só me lembro de olhar para o meu tio e ele estar a dizer que não deviamos ter deixado as chaves na ignição...

Uma leoa e um jipe com as chaves na ignição, não percebia o problema daquilo... mas a verdade é que o jipe só reapareceu 3 meses depois.




José Augusto Moreira, 71 anos
Reformado

domingo, junho 20, 2010

Coisas terrenas


Um dia após o falecimento de José Saramago, o Jornal do Vaticano considerou-o "populista e extremista", não o perdoando mesmo após a morte.
E eu daqui não sei, que não o vejo, mas ele deve estar bem preocupadinho com isso.
Deve deve.

segunda-feira, junho 14, 2010

Efeito borboleta

Segundo a teoria, o bater de asas de uma simples borboleta pode influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo.
A Galp levou o conceito mais longe.

Nos próximos dias o - já atipico - mercado dos combustiveis em Portugal prepara-se para ser base desta pertinente teoria, que justificará os aumentos previstos até 2011.

Assim, se o bater das asas de uma simples borboleta não lhe parecer suficiente para o aumento do preço do combustivel saiba que o facto de o bater das asas dessa mesma borboleta não lhe parecer suficiente é justificação para aumentar em 1 centimo o preço da gasolina e meio centimo o preço do gasóleo.
Se nessa altura o vento soprar de Norte para Nordeste, ao aumento deverão ser adicionados mais 0,23 centimos ou 0,35 centimos, caso sopre de Sul para Sueste.

Andar de pantufas em soalhos de pinho ou castanheiro ou sentir a electricidade estática aproximando os dedos do ecrã de uma televisão são acções que estão também previstas serem taxadas, assim como bater com as portas com demasiada força...ou com força a menos.
Espirrar com os raios de sol, trincar acidentalmente a lingua ou roer as unhas em tardes de sexta-feira, sabado e domingo estão igualmente na lista.

Comer pão sem nada ou soprar a franja são ainda consideradas "acções que não justificam imposto" assim como morder limões de Sines ou cortar tábuas de madeira em triangulos, mas o futuro é incerto.


domingo, junho 13, 2010

Red, a apresentação oficial

Mais um

13 de Junho de 2010 foi o dia escolhido para a apresentação oficial daquele que será o meu transporte oficial durante os meses de restauro da JU, o QH.


Este pequeno R1128 de 1988, vermelho, viveu toda a sua vida em Oeiras (que é o centro do mundo, ao que parece) nas mãos do seu primeiro e único proprietário e 2010 foi o ano da mudança.
Livro completo de manutenção, 122000km.

Aos 21 anos e após uma profunda - e até desgastante - reparação do sistema de travões, rumou a Lisboa.


"QH", Red, Vermelhinho... a verdade é que lhe chamam um pouco de tudo.
Baptizar este vai ser um pouco mais complicado.

Já mencionei que a reparação dos travões foi mesmo profunda e desgastante, já? Ok.


Os planos são ambiciosos.
Com a missão de substituir um veículo mitico e carismático - e estou a falar da JU - o QH tem pela frente um desafio de extrema responsabilidade que certamente passará com distinção.


Já disse que a reparação dos travões foi mesmo mesmo desgastante, não já? Pronto, "just checking".

Ainda não parece meu. Ainda não cheira a meu. Ainda não há aquela confiança, percebem?
Como será que reagirá no dia-a-dia? Como será que reagirá quando um dia, eventualmente, ficar sem gasolina?
Agora só com o tempo...

...mas é adorável, não é? ;)

Quilómetros, venham eles!

Mundial 2010 - África do Sul!

Se fosse possivel voltar atrás no tempo - ou ter acesso a videos do passado que nunca foram feitos - eu pagava (pagava!!) para ver o momento em que se decidiu:

- "...e o Mundial de 2010 vai ser... na África do Sul! Soa mesmo bem... África do Sul! Na África do Sul! É que uma pessoa não se cansa, de tão boa que é a ideia: África do Sul! O chantily está para os morangos... como o Mundial de 2010 estará para a África do Sul! E a pobreza e o crime também... roubo, violações, fome...mas fundamentalmente o Mundial de 2010".

domingo, junho 06, 2010

Reprovado

Andei dias a escrever um texto que não vou publicar.
O texto falava de textos que não publiquei e, no fundo, as coisas estão bem quando fazem sentido.

No presente momento escrever é como apagar as letras das teclas,
Um monte de botões vazios. Analfabetismo.

A morte de alguém querido lembra-nos sempre que não devemos andar a passo, mesmo quando a solução passa por correr e tropeçar. E cair.
A morte tem sempre o poder de limitar o que já limitado.

Haja tempo. E memória.